Não só os dentes são prejudicados, mas também questões como respiração e digestão; veja o papel de cada dente
Natural desde quando ganhamos dentes e passamos a ingerir alimentos mais firmes, a mastigação é algo que se desenvolve de maneira intuitiva durante o crescimento de todos nós. No entanto, para a saúde dos nossos dentes e do corpo como um todo, esse processo deve ser feito de maneira mais consciente.
“Tudo começa pela boca, a boa digestão vai ser iniciada pela boa mastigação. O bom posicionamento dos dentes faz com que tenhamos uma mastigação mais eficiente. Os fatores que influenciam são os dentes e a salivação. Os dentes agem de forma mecânica, triturando os alimentos, é importante que haja todos os dentes. E a saliva contém uma enzima faz com que o processo de digestão seja mais efetivo”, explica Heloísa Crisóstomo (CRO-DF: 8149), especialista prótese dentística e vice-presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO) – seção DF.
É preciso estar atento para uma boa mastigação para não prejudicar os dentes e a saúde em geral
Cada tipo de dente tem seu papel na mastigação. Os incisivos agem como uma tesoura, pois sua função é cortar a comida. Já os posteriores agem triturando os alimentos. Quando um deles falta, o processo mastigatório sofre prejuízo (veja mais no fim do texto)
“Por exemplo, no caso de uma maçã, cortamos com os incisivos e jogamos para os dentes posteriores para a trituração. Quem não tem os dentes da frente, acaba cortando com os do fundo, o que não é eficiente. Quando há falhas, os outros dentes ficam desorganizados e a oclusão fica prejudicada”, exemplifica Heloísa.
A mastigação incorreta oriunda da falha nos dentes faz com que tentemos compensar com outros dentes, causando maior desgaste nesses dentes que passam a ser mais exigidos. Cáries ou excesso de sensibilidade também podem levar ao uso mais intenso de um lado da dentição do que do outro.
“Se a mastigação for incorreta vai interferir na dentição, na ATM (articulação temporomandibular), na respiração. Se a pessoa mastiga incorretamente, ela vai não conseguir deglutir direito, não tritura os alimentos, não forma o bolo alimentar, pode causar dor de estomago, engasgos… há uma cadeia de consequências”, aponta Lílian Kuhn, fonoaudióloga da clínica Fono&Com.
Lilian segue dando exemplos: “Quem tem os dentes mal posicionados, por exemplo, com os dentes muito pra frente, terá dificuldade para morder, para fechar a boca, a pressão muda. Uma criança que chupa chupeta durante muito tempo terá dificuldade de manter a língua e o alimento dentro da boca durante a mastigação, o que também prejudica a fala,”
A mastigação ineficiente impede que os nutrientes sejam plenamente absorvidos durante a digestão. “O que é importante é prestar atenção se o alimento está sendo bem triturado. Quando colocar o alimento na boca, descanse os talheres sobre o prato para estimular mais mastigações a cada garfada”, sugere Heloísa. Outro fator negativo é que a má mastigação faz com uma maior quantidade de restos de alimento fiquem na boca, proporcionando o ambiente ideal para o surgimento das cáries.
Vale destacar que não existe uma quantidade ideal de mastigações. Isso vai variar conforme a textura do alimento. Uma sopa não requer mastigação. O macarrão, embora sólido, é macio e facilmente mastigável, já uma carne vai requerer mais esforço.
“Precisamos pensar na velocidade, mastigar, mastigar e mastigar para dar tempo de formar esse bolo e conseguir engolir. Senão, o alimento desce arranhando, a pessoa sente dor ou engasga”, recomenda Lílian.
As alterações na mastigação são mais comuns em crianças e idosos, sendo o processo de reabilitação conduzido pelo fonoaudiólogo. O tratamento envolve a conscientização sobre os tipos de alimentos, consistência e exercícios para fortalecimento da musculatura da boca, lábios, língua e bochechas.
Quem faz o quê na hora da mastigação:
Incisivos: são os oito dentes da frente (considerando as arcadas superior e inferior). São os dentes responsáveis por cortar os alimentos.
Caninos: temos quatro dentes (dois superiores e dois inferiores), eles têm um formato pontiagudo e sua função é perfurar e rasgar os alimentos
Molares e pré-molares: são os chamados “dentes do fundo” e incluem os famosos “dentes do siso”. Especificamente, são quatro pré-molares (em cima e embaixo) e doze molares. O papel deles é triturar e moer os alimentos na fase final da mastigação.